Diocese do Funchal - Ano Pastoral 2020 / 2021 - "A Eucaristia constrói-nos no caminho da Fé: Cristo Salva-te. Maria pôs-se a caminho ..."

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Homilia de D. António Carrilho, Bispo do Funchal, na celebração do XV Dia Mundial do Doente

Casa de Saúde Câmara Pestana, 11 de Fevereiro de 2012
Cuidar o doente, com generosa atenção e alegre coração!
Celebrar o Dia Mundial do Doente, na memória litúrgica de Nossa Senhora de Lurdes, tem um sentido muito especial. A Igreja convida-nos, deste modo, a olhar para Maria como a Mãe bondosa que nos acompanha ao longo da vida, se inclina sobre nós para escutar as nossas preces e atender às nossas necessidades, também quando a ela nos dirigimos em situações de doença do corpo ou do espírito. Ela é a nossa medianeira e a melhor consolação.

Saúdo, com profundo afecto, e afirmo a maior proximidade espiritual e união a todos os queridos doentes, que se encontram nos hospitais, nas casas de saúde ou nas suas famílias, na Madeira e no Porto Santo. E lembro especialmente as crianças, os jovens, adultos ou idosos, que são esquecidos na sua dor e solidão. Neles, podemos nós contemplar o rosto de Cristo Sofredor, que na Eucaristia perpetua na Igreja a Sua oferta ao Pai, por amor e pela vida do mundo.
Sinal de consolação e esperança
Hoje, lembrando as Aparições de Lourdes, em 1858, recordamos a jovem Bernardete Soubirous com o seu olhar fixo na bela Senhora, que se apresentou como “a Imaculada Conceição” e pediu, na sua maternal solicitude, para nos encontrarmos com o seu Filho Jesus, mediante a nossa própria conversão. Esta presença carinhosa de Maria, junto de nós, seus filhos, continua a manifestar-se no encontro sobrenatural, na cura interior e física, na força e na alegria, que do Céu nos vêm.
Lourdes é memorial vivo desta proximidade da Mãe e de numerosas curas, em situações clínicas graves e tidas como incuráveis, realizadas por Deus, através da sua intercessão. Olhando Maria, a Humanidade contempla o seu olhar de materna consolação e esperança e implora as graças de que necessita, sejam de ordem espiritual ou material. A Maria-Mãe, toda a nossa gratidão e louvor...
O rosto amoroso de Deus
A Palavra do Senhor, que acabámos de escutar, toda ela marcada pelo sentido da presença e consolação de Deus, vem iluminar os nossos caminhos de sofrimento, solidão, angústia e ansiedade.
O Profeta Isaías, portador da grande esperança e alegria messiânicas, refere-se a Deus como mãe solícita, a transbordar de amor pelos seus filhos: “Como a mãe que anima o seu filho, também Eu vos confortarei: em Jerusalém sereis consolados” (Is 66,13). De uma forma profunda e poética, Isaías revela-nos a beleza do rosto paterno e materno de Deus Pai. E as palavras dão lugar a gestos de imensa ternura: “leva os seus filhos ao colo e acaricia-os sobre os joelhos” (v.12).
No texto evangélico, também há pouco proclamado, S. Lucas põe em evidência a “bem-aventurança” da Virgem Maria, as razões profundas da sua verdadeira e imensa felicidade. Uma mulher, que escutava Jesus, entusiasmada e surpreendida pela sabedoria e eloquência do jovem Mestre, bendiz e louva a Mãe que O trouxe no seu ventre. Jesus não nega a grandeza de Sua Mãe, mas coloca esta riqueza espiritual e felicidade de Maria, como referencia para toda a pessoa humana, acima das limitações culturais de todos os tempos e lugares.
Maria é a Mãe, aberta ao mistério da vida e do amor, vigilante na escuta assídua da Palavra, que a torna feliz: “Mais felizes são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 28). Esta é a autêntica riqueza e o caminho de felicidade, apontado por Jesus, ao enaltecer o exemplo de fé de Sua Mãe.
Atenção e ternura pelos que sofrem
Conhecemos, através dos Evangelhos, a divina e humana compaixão de Jesus pelos enfermos do corpo e do espírito. São relevantes os milagres de cura realizados por Ele e até alguns casos de comunicação da vida em situações de morte. “Ao longo da sua vida, Jesus anuncia e torna presente a misericórdia do Pai”, lembra-nos o Papa Bento XVI na sua Mensagem para o XV Dia Mundial do Doente, que estamos a celebrar, com o tema «Levanta-te e vai, a tua fé te salvou!» (Lc 17, 19).
Com a Pastoral da Saúde, pretende a Igreja responder aos desafios e necessidades dos doentes, em vista do respeito dos seus direitos e da humanização da saúde integral. Aponta, como objectivos, acolhê-los e tratá-los com a compaixão de Cristo, oferecer-lhes qualidade de vida e integrá-los nas próprias comunidades. No actual contexto do desenvolvimento da medicina científica, a Igreja assume, como missão, evangelizar a cultura da saúde, projectando uma nova luz ética no mundo dos doentes e das famílias, numa sociedade em crise de valores fundamentais.
O Papa chama a atenção para a importância e consciência da fé dos irmãos e irmãs atingidos pela dor física, psíquica ou moral. “Quem no seu próprio sofrimento e enfermidade, invoca o Senhor”, diz Bento XVI, “está convicto de que o Seu amor nunca o abandona, e que também o amor da Igreja, prolongamento no tempo da Sua obra salvífica, jamais desfalece”.
Quantos testemunhos vivos de quem, após prolongada experiência de provação e sofrimento, encontrou a graça do Senhor, a Sua paz e a Sua força! "Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com amor infinito" (Bento XVI, Spe Salvi, 37). O Amor de Cristo ajuda-nos a vencer a tentação do desespero, ajuda-nos a dar ao sofrimento um sentido redentor e de esperança.
A Igreja, espaço de acolhimento e serviço
A pessoa do doente, com todos os seus problemas e sofrimentos, é o caminho que a Igreja percorre, qual mãe vigilante e amorosa, junto dos seus filhos e filhas, fragilizados pela dor ou já em fase terminal. A Igreja compreende e assume esta fragilidade, que é própria da nossa condição humana. Por isso mesmo, além de procurar resposta para as dores físicas, está sobretudo atenta ao doente, à sua ansiedade e tristeza interior, aos seus anseios mais profundos.
Com os sacramentos da Reconciliação, Unção dos Enfermos e Eucaristia, a Igreja procura garantir aos enfermos a assistência espiritual e manifestar a proximidade de Deus que os ama, acolhe e envolve na Sua salvação. Diz Bento XVI: “No Seu grande amor, Ele vigia sempre e de qualquer modo sobre a nossa existência, e espera-nos para oferecer a cada um dos filhos que volta para Ele, o dom da plena reconciliação e da alegria”.
Como Bispo desta Diocese saúdo, com afecto e gratidão, todos os profissionais de saúde e em particular as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, da Casa de Saúde Câmara Pestana, que nos acolhe neste XV Dia Mundial do Doente. Saúdo, também, com reconhecimento e apreço, os voluntários que generosamente colaboram na área da saúde e as famílias que tratam e acompanham os doentes nas suas casas. Que o Senhor da Vida a todos dê força e coragem para continuardes a acolher e a amar com muita paciência os irmãos e irmãs doentes, a semear esperança, vida e alegria nos seus corações.
Com a competente acção clínica e o vosso espírito de caridade fraterna no serviço aos que sofrem, sois vós o rosto visível da misericórdia e da ternura de Deus para com eles. A vossa presença, permeada de delicada atenção, cuidados e até silêncios, é mediação do amor compassivo e solidário de Cristo, por cada homem e por cada mulher, tocados pelo sofrimento. Eles são chamados a participar no mistério do Seu sofrimento redentor e encontrar nele, também, um sentido de redenção. Assim o entende S. Paulo ao escrever: Agora alegro-me com os sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja” (Col 1, 24).
Mãe vigilante
Com o seu “Sim” generoso, Maria ofereceu-nos o Salvador do mundo, Aquele que liberta, salva e cura todas as doenças da humanidade. Fiel ao pedido de Jesus, no Calvário, ela continua de pé e vigilante, junto de nós e da cruz dos nossos doentes, acreditando no triunfo do mistério do Amor.
A Maria, Mãe da Misericórdia e Saúde dos Enfermos, elevamos o nosso olhar confiante e a nossa oração, entregando-nos à sua maternal protecção, para que acompanhe e sustente a fé e a esperança de cada pessoa doente e daqueles que os tratam com generosa atenção e alegre coração.
Funchal, 11 de Fevereiro 2012
† António Carrilho, Bispo do Funchal

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